sexta-feira, 4 de março de 2011

A DEVOLUÇÃO DO ACRE AOS BOLIVIANOS

*Roberto Monteiro de Oliveira


A reação boliviana – O governo boliviano não se dá por vencido. Em 2 de janeiro de 1899, o ministro plenipotenciário boliviano, Dom José Paravicini, com o consentimento do governo brasileiro retoma a soberania boliviana sobre o Acre.
Paravicini se estabeleceu em um povoado nas terras do Seringal Caquetá que pôs o nome de Puerto Alonso, em homenagem ao então Presidente da Bolívia Severo Fernandez Alonso. Paravicini foi substituído depois por Moisés Santivanez.
O governo dos bolivianos - Na verdade os prepostos bolivianos exerceram plenamente a soberania sobre o território acreano. Começaram arrecadar impostos sobre a produção da borracha, exigiram a demarcação e legalização das terras dos seringais, e atendendo às pressões do governo norte-americano proclamaram a abertura dos rios amazônicos ao comércio internacional e iniciam um relacionamento autoritário e violento com os seringalistas e seringueiros brasileiros.
A reação dos acreano-brasileiros - Abandonados pelo moribundo império brasileiro o jornalista José Carvalho, no primeiro de maio de 1899, no Seringal Bom Destino, de propriedade de Joaquim Vítor reuniu outros seringalistas, seringueiros e mais brasileiros e, iniciou o que ficou registrado pela História como a Revolução do Acre.
Estes revolucionários assinaram um manifesto e instituíram a Junta Central Revolucionária que intimou as autoridades bolivianas a se retirarem daquele território o que efetivamente aconteceu sem nenhuma reação.
A grande armação – Em Belém do Pará, o jornalista espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Árias, em 03 de junho daquele ano de 1899, denunciou pela imprensa a existência de um acordo secreto entre o governo da Bolívia e os Estados Unidos da América do Norte, pelo qual os Estados Unidos em caso de guerra entre o Brasil e a Bolívia pelo território do Acre apoiariam militarmente a Bolívia.
Como sempre, os governos denunciados negaram veementemente. Mas os acontecimentos posteriores comprovaram a verdade das denúncias. Patrocinado pelo governo do Estado do Amazonas, interessado em manter a soberania sobre aquele território, Luiz Galvez foi até ao Acre para conversar com a junta revolucionária.
O Estado Independente do Acre – Considerando que as elites do governo brasileiro continuavam reconhecendo a soberania da Bolívia sobre o Acre, sem o conhecimento do que realmente se passava naquela base territorial, totalmente indiferente aos legítimos anseios do povo acreano que queria ser brasileiros, os revolucionários decidem criar o Estado Independente do Acre. “Já que nossa Pátria não nos quer, criamos outra”, diziam os revolucionários.
Efetivamente, no dia 14 de julho de 1899, aniversário da Queda da Bastilha, primeiro fato relevante da Revolução Francesa os revolucionários acreanos proclamam o Estado Independente do Acre com a capital na cidade do Acre, tendo Luiz Galvez Rodrigues de Árias como presidente.
O governo de Galvez - Galvez foi tomando todas as providências necessárias para a organização do novo Estado. Deve-se observar, porém, que desde as primeiras reuniões entre Galvez e os revolucionários foi fixado o objetivo principal da revolução que era se libertar do domínio dos bolivianos e, logo a seguir se anexar ao Brasil como um Estado autônomo da federação brasileira com todos os direitos inerentes a essa condição.
Este sempre foi o ideal que irmanou seringalistas, seringueiros, homens e mulheres do Acre em busca da cidadania brasileira que lhes estava sendo negada por uma elite burocrática completamente legalista, indiferente aos anseios de um povo que lutava pela afirmação da própria identidade amazônica e brasileira.
Este ideal dos acreanos só será realizado plenamente em 1962 no contexto do governo do presidente João Goulart, após quase sessenta anos de lutas contra governos que continuavam negando aos acreanos a sua autodeterminação.
A deposição de Galvez - Algumas das medidas adotadas por Luiz Galvez contrariaram interesses de seringalistas, aviadores e exportadores de Borracha de Manaus e Belém o que provocou a substituição de Luiz Galvez pelo seringalista Antônio de Souza Braga em 28 de dezembro de 1899. Mas em 30 de janeiro de 1900, Luiz Galvez volta ao poder convocado por Antônio de Souza Braga que se sentiu incapaz de administrar a situação.
Novamente o governo brasileiro – Diante dessa situação, acompanhada com grande interesse pelo povo brasileiro e boliviano, o governo brasileiro manda uma força tarefa da marinha para o Acre e em 15 de março de 1900 devolve a soberania daquele território para o governo boliviano.

*Geógrafo do Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAZ) da Universidade de Brasília.

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