quarta-feira, 23 de março de 2011

Capital da Líbia volta a ser alvo de ataques e bombardeios

Caças da coalizão internacional bombardearam pela segunda vez nesta quarta-feira as instalações militares do bairro de Tayura, ao sul da capital, informou a rede de televisão estatal líbia. A emissora oficial relatou que entre os alvos bombardeados também há construções civis.

Moradores da capital disseram ter ouvido oito explosões da zona leste da cidade e fumaça foi vista no céu durante a noite.

"Ouvimos quatro explosões, e depois de cinco minutos mais quatro", disse um morador de Tajoura, no leste. Outro morador da região confirmou a informação. Barulhos distantes foram ouvidos por repórteres da Reuters que estavam na região central de Trípoli.

O bairro de Tajoura é o principal enclave dos protestos em Trípoli, e onde as forças que apoiam o regime de Muammar Gaddafi reprimiram com a maior violência os esforços dos opositores ao regime para sair às ruas.

A região, segundo os poucos jornalistas que dela conseguiram se aproximar, está sempre fortemente vigiada por forças pró-Gaddafi.

Segundo a agência oficial do governo líbio, Jana, ataques aéreos da coalizão internacional contra o leste de Trípoli atingiram "um bairro residencial" nesta quarta-feira, deixando um "número importante de mortos entre civis".

Forças de Gaddafi atacam hospital
As forças governamentais líbias bombardearam na noite desta quarta-feira o principal hospital de Misrata, e várias casas desta terceira cidade do país, situada a 200 km a leste de Trípoli, declarou à AFP uma testemunha ouvida por telefone.

"A situação está péssima e muito grave aqui em Misrata. Os tanques estão bombardeando tudo", afirmou um porta-voz da rebelião na cidade.

Estes bombardeios acontecem depois que as forças da coalizão atacaram tropas terrestres do coronel Kadhafi principalmente em Misrata onde, segundo um médico, 17 pessoas, entre elas cinco crianças, foram mortas na terça-feira por franco-atiradores e morteiros lançados pelas forças governamentais.

*Com agências internacionais



terça-feira, 22 de março de 2011

KGB: Guerra fria e suja


Os bastidores de uma disputa que reúne espionagem, corrupção e assassinatos em 90 anos de história dos serviços secretos soviéticos e da temida KGB

                                                                                                                                                                                    por Sérgio Miranda

Em 20 de agosto de 1940, o espanhol Ramón Mercader entrou em uma sala da casa de Leon Trotski, nos arredores da Cidade do México. Caminhou calmamente na direção do líder russo e acertou sua cabeça com uma picareta de alpinismo. Quando os guarda-costas partiram para cima de Mercader, ouviram o patrão gritar: "Não o matem! Esse homem tem uma história para contar". Trotski morreu no dia seguinte. Durante seu julgamento, o assassino testemunhou: "Pousei o casaco na mesa de forma a poder tirar a picareta que estava no bolso. Decidi não perder a grande oportunidade que surgiu. No momento em que Trotski começou a ler um artigo, deu-me a oportunidade: tirei a picareta do casaco, segurei-a firme na mão e, de olhos fechados, dei-lhe um golpe terrível na cabeça". Difícil acreditar que ele tenha dito isso nesses termos. Mas assim foi anotado pela Justiça mexicana e entrou para os anais da História. Embora tenha ocorrido no México e o assassino fosse nascido na Espanha, a ação tinha autoria clara: o NKVD, o serviço secreto da União Soviética. A entidade ainda não se chamava KGB, mas já dava mostras de sua capacidade de eliminar os inimigos do Estado soviético. Nas décadas seguintes, os espiões ampliariam o raio de ação: no lugar de resolver apenas questões internas, a KGB passaria a atuar em disputas diplomáticas, políticas, militares e econômicas de muitas outras nações, inimigas ou parceiras. O braço mais obscuro, eficiente e violento do regime comunista da URSS também mudaria os rumos do planeta durante a Guerra Fria.

O mais temido e famoso de todos os serviços secretos soviéticos começou a nascer ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Rapidamente, a celebração da vitória deu lugar a um racha entre os aliados. A Guerra Fria dividiu o mundo em dois blocos, liderados por americanos e soviéticos. Nesse novo ambiente, que de frio mesmo só levava o nome, a disputa era travada nos bastidores, na busca de informações sobre os inimigos, estivessem eles do outro lado do mundo ou atuando dentro de casa. As agências de espionagem, que sempre desempenharam papel importante nas estratégias de guerra e diplomacia, ganharam ainda mais destaque. Tudo o que faziam, e como faziam, servia para manter o outro lado sempre em dúvida sobre o próximo passo. Foi nesse ambiente tenso que emergiu para os ocidentais a figura emblemática do Comitê de Segurança do Estado (KGB, na sigla em russo, que aqui no Brasil costumamos flexionar no feminino: a KGB). Foi durante a Guerra Fria que as ações do serviço secreto se tornaram assunto recorrente no noticiário político ou nos filmes da Sessão da Tarde. O jogo de rato e rato entre as duas superpotências estimulou a modernização da agência, então chamada de Comissariado do Povo para Assuntos Internos (NKVD na sigla russa).

A interferência nas questões domésticas não era nova. Desde que chegaram ao poder, os comunistas sempre enfrentaram a ameaça e, às vezes, a tentativa direta de intervenção militar estrangeira. Britânicos e americanos patrocinaram os esforços de restauração do czar e as ações militares da revolta anticomunista detida por Lenin, em 1919, e armaram o Exército Branco, na guerra civil de 1921. O Estado soviético e o Partido Comunista se acostumaram, desde o nascimento, a reagir e atuar com o apoio de uma estrutura policial de segurança. Criado em 20 de dezembro de 1917 durante a revolução russa, a primeira dessas organizações foi o Comitê Contra Atos de Sabotagem e Contrarrevolução (Cheka), que existiu por quatro anos. Com a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1922, o serviço secreto passou a se chamar Administração Política do Estado e ganhou a nova missão de investir contra os "inimigos do povo russo", geralmente todo aquele cidadão que ainda fizesse oposição ao regime, de qualquer natureza.

Nos anos 30, sob as ordens diretas do novo diretor, Josef Stalin, a instituição trocou mais uma vez de sigla e virou NKVD. Com ele, além das funções policiais e de segurança do Estado, alguns dos departamentos cuidavam de questões como transportes, forças armadas e a guarda das fronteiras. Quanto mais concentravam esse poder, mais Stalin e o NKVD notabilizavam-se pela perseguição, tortura e execução de adversários, mesmo entre os membros do Partido Comunista. A rede de informações serviu para as estratégias soviéticas durante a Segunda Guerra, embora ele tenha condenado à morte alguns de seus estrategistas em 1938 e 1939.

Vizinhos sob controle
Com o fim da Segunda Guerra e o breve período de aliança com os países ocidentais, os soviéticos se deram conta de duas coisas, uma boa e outra ruim. A boa: os antigos inimigos dos russos tinham perdido muito poder. A França e a Inglaterra não eram os mesmos impérios e a Alemanha saíra derrotada. A má notícia: o inimigo que sobrou, os Estados Unidos, estava muito mais forte e determinado a combater o comunismo. Ainda assim, em um dos primeiros duelos da Guerra Fria, os espiões soviéticos levaram a melhor.

Os americanos trabalhavam em total sigilo no desenvolvimento da bomba atômica. Ou, pelo menos, pensavam assim. Quando o presidente Harry Truman aproveitou a conferência de Postdam, em julho de 1945, para mencionar a Stalin a montagem da bomba, o ditador não se surpreendeu. A KGB o municiava com informações vindas de uma rede de espiões - incluindo o físico Klaus Fuchs, um alemão naturalizado inglês que teve um importante papel dentro do Projeto Manhattan, de preparação da bomba em Nova York, e quatro espiões infiltrados na Inglaterra (veja o quadro na pág. 34). Ao explodir seu primeiro artefato, em agosto de 1949, a União Soviética antecipou as previsões dos especialistas estrangeiros em, no mínimo, dez anos.

Uma vantagem da KGB era a centralização de poder. Enquanto os americanos mantinham uma agência de inteligência para assuntos externos, a CIA, e um escritório para investigações internas, o FBI, os soviéticos concentravam tudo nas mãos de um único órgão. Com a morte de Stalin, em 1953, Laurenti Beria, chefe do NKVD, tentou assumir o posto máximo. Acabou executado pelo Partido Comunista, que ordenou também a reformulação do serviço secreto. "A reforma que criou a KGB visava desde conciliar a manutenção do controle interno até criar uma política mais efetiva nas ações estratégicas, principalmente no campo das informações e inteligência, fora do território soviético", afirma Dmitry Trofimov, professor do Centro de Relações Internacionais da Universidade de Moscou. Segundo ele, a polarização militar global ficou evidente em 1955, com a criação da Otan e, em seguida, do Pacto de Varsóvia. "Uma das primeiras atribuições da KGB foi atuar dentro dos aparelhos dos Estados satélites do bloco socialista, não só junto aos serviços secretos, mas também imprensa e organizações de trabalhadores", diz Trofimov.

A presença da KGB nos países do bloco virou rotina. Em 1956, em meio a denúncias de violação dos direitos humanos de presos políticos, agentes soviéticos estavam por trás dos relatórios que deram suporte à invasão da Hungria por tanques do Pacto de Varsóvia. No mesmo ano, envolveram-se na violenta repressão contra um movimento reformista na Polônia. Em 1961, o aval da KGB foi decisivo para a iniciativa do governo da Alemanha Oriental de erguer o Muro de Berlim. Mais tarde, em 1968, a atuação do serviço soviético sufocaria as transformações políticas, sociais e econômicas propostas por intelectuais da Tchecoslováquia, no episódio conhecido como Primavera de Praga.

Nem tudo acabava em perseguição e morte, mas tudo era guerra e o lançamento, em 31 de dezembro de 1968, do avião supersônico Tupolev TU-144 foi uma tremenda vitória anotada no caderninho da KGB. Dois meses antes, espiões soviéticos tiveram acesso aos planos do Concorde francês e colocaram o protótipo no ar antes que o modelo capitalista ficasse pronto. Assim, em 5 de junho de 1969, o Tupolev se tornava a primeira aeronave comercial a ultrapassar a barreira do som.

Nem todas as ações da KGB eram secretas. Em 1972, cerca de 100 consultores militares soviéticos foram enviados ao Afeganistão para treinar as forças armadas locais. Em 1978, os dois países já assinavam o acordo que permitia o envio de outros 400 militares. Em dezembro do mesmo ano, mais um papel que garantia a amizade e a cooperação mútua. Em 1979, o Exército Vermelho invadiu o país. "O presidente Hafizullah Amin, considerado incapaz de resistir aos rebeldes que lutavam contra o regime comunista local, foi morto durante a tomada do palácio presidencial pelas tropas treinadas pelo KGB", diz Roger McDermott, professor da Universidade de Aberdeen e autor de Russia’s Security Agenda in Central Asia ("Agenda de segurança da Rússia na Ásia Central", inédito no Brasil). Durante os três primeiros anos de invasão, dois terços do exército regular afegão desertaram, facilitando que os mujahidin rebeldes controlassem 80% do país. Sem o apoio local, a invasão foi um fiasco. Em 1986, a ajuda militar estrangeira já havia equipado os rebeldes com armamento pesado, inclusive os mísseis que tiraram dos soviéticos o controle sobre o espaço aéreo. A operação começou a ser questionada dentro da própria URSS pelo alto custo - cerca de 3 bilhões de dólares por ano - e pelo resultado negativo, tanto do ponto de vista político como da propaganda comunista. Mais de 110 mil soldados lutaram; 5 mil morreram.

A queda

O episódio expôs as falhas estratégicas do Exército e da coordenação da KGB. Mas a preocupação naquele momento já era outra: o império socialista estava ruindo. O país não suportava mais os investimentos em armas, corrida espacial ou serviços de espionagem em detrimento do parque industrial atrasado e dos baixos níveis de produção. Moradores de Moscou enfrentavam filas por alimentos e produtos de higiene, enquanto o fornecimento de energia e água entrava em colapso. Para McDermott, quando o líder soviético Mikhail Gorbachev surpreendeu o mundo declarando uma moratória nuclear unilateral e, em 15 de fevereiro de 1989, retirou o último tanque do Afeganistão, ele abriu o processo que deu fim à KGB, ao menos nos moldes a que estava acostumada. A Glasnost prometia liberdade de expressão para a imprensa e transparência nas ações do governo. Mesmo apregoando que não seria necessário erradicar o sistema socialista, mas provocar uma reformulação, Gorbachev sofreu uma tentativa de golpe em agosto de 1991 e foi afastado do partido por membros da burocracia conservadora e da KGB. A ação foi sufocada pelo presidente da Rússia, principal república soviética, Boris Ieltsin. Convocando uma greve geral, Ieltsin obteve apoio de milhares de pessoas que acamparam em frente ao Parlamento. Mas, com a nação em frangalhos, Gorbachev renunciou à presidência e extinguiu a URSS, em 31 de dezembro. Oficialmente, a data encerra a KGB. Afinal, um regime que deixa de existir não tem mais inimigos.

A queda da KGB, porém, não marca o fim de uma estrutura de inteligência. Desde a era Gorbachev, quando os membros do serviço secreto perderam prestígio, agentes passaram a buscar meios de tirar vantagem de seus postos. Muitos começaram a vender artefatos de espionagem no mercado negro, inclusive na Europa e nos EUA. Mas o que sobressaiu mesmo foram a estrutura e a experiência da KGB, que, em uma época de incerteza política pós-URSS, serviram como base para o desenvolvimento do crime organizado e daquilo que se costumou chamar de máfia russa. Estima-se que mais de 8 mil grupos criminosos controlem cerca 40% da riqueza do país. Grande parte dos grupos é liderada por ex-funcionários da KGB ou militares do extinto Exército Vermelho. Assim fica fácil entender as semelhanças entre a máfia e a polícia secreta soviética.

O herói russo
Richard Sorge nasceu em 1895 em Baku, hoje capital do Azerbaijão. Mudou-se com a família para a Alemanha e tornou-se jornalista. Com convicções socialistas desde cedo (seu tio havia sido secretário de Karl Marx ), entrou voluntariamente para um batalhão de artilharia na Primeira Guerra. Em 1925 foi para Moscou, filiou-se ao Partido Comunista e, em 1930, foi enviado à China pelo serviço de espionagem do Exército Vermelho. Com reputação de jornalista respeitado, viajou pela Ásia e se aproximou do Japão. Sorge transitava entre os líderes japoneses sem despertar suspeitas. Tanto que se recusou a obedecer uma ordem de Stalin para que retornasse à URSS em 1937. Entre as informações que passou aos soviéticos, uma teve importância fundamental para o andamento da Segunda Guerra: garantiu a Stalin que o Japão não atacaria a URSS, o que permitiu que as tropas soviéticas deixassem a fronteira com o país para se deslocarem para oeste, contendo o avanço dos alemães em Stalingrado. Sorge foi detido em 1941, depois que os japoneses prenderam o jornalista Ozaki Hozumi, seu colaborador. Foi enforcado em 1944 e, 20 anos depois, recebeu o título de Herói da União Soviética.

A agente apaixonada
A professora americana Elizabeth Bentley (1908-1963) teve contato com os ideais socialistas em 1933 quando estudou em Florença, Itália. Quando voltou aos EUA, em 1935, filiou-se ao PC local. Foi trabalhar numa organização italiana que propagava o fascismo nos EUA e pediu para entrar no serviço de espionagem soviético. Logo entrou em contato com Jacob Golos, um imigrante russo cidadão americano e um dos principais nomes da inteligência da URSS. O relacionamento se tornou amoroso e Golos, aos poucos, transferiu algumas de suas atividades para a mulher, como o trânsito de documentos entre os contatos da inteligência soviética em solo americano. O casal montou uma agência de viagem que facilitava a entrada de agentes secretos nos EUA. Depois da morte de Golos, Bentley começou a se desentender com os chefes, em 1943. Enquanto seu assassinato já era planejado, em novembro de 1945, após a Segunda Guerra, ela procurou o FBI e confessou. Entregou o nome de 150 espiões.

O traidor da KGB
A ação de um espião russo do NKVD está intimamente ligada ao início da Guerra Fria. Igor Sergeyevich Gouzenko (1919-1982) era criptógrafo na embaixada soviética em Ottawa, no Canadá. Mas ele desertou e, em setembro de 1945, reuniu 109 documentos e os entregou ao Jornal de Ottawa. A papelada provava a existência de uma rede de espionagem soviética no Canadá. O objetivo era obter informações para roubar tecnologia americana, principalmente sobre a bomba atômica. A URSS havia sido uma aliada importante para a derrota de Hitler e as revelações de Gouzenko serviram para alertar EUA e Canadá sobre as reais intenções dos soviéticos. Ele recebeu nova identidade e cidadania canadense. Em público, só aparecia mascarado.

Os espiões de Cambridge
Ainda nos anos 20 começou um plano do NKVD para infiltrar espiões no serviço de inteligência britânico. Jovens estudantes que seguiriam carreira diplomática ou nos órgãos de segurança e que manifestavam simpatia pelas ideias marxistas eram identificados e recrutados. Membros do Partido Comunista local eram descartados, pois nunca teriam acesso a dados internos do governo. Assim surgiu o grupo conhecido como os Espiões de Cambridge, quatro jovens que por quase 30 anos passaram segredos importantes aos contatos soviéticos na Europa. Guy Burgess (1910-1963), Anthony Blunt (1907-1983), Donald Maclean (1915-1983) e Kim Philby (1912-1988) atuavam no Escritório de Contrainteligência e no Serviço Secreto de Inteligência britânicos e foram responsáveis por revelar os projetos sobre a bomba atômica aos soviéticos. Permitindo o rápido acesso da URSS ao armamento nuclear, quando o presidente americano Harry Truman tinha sobre a mesa um plano de bombardeio a 32 cidades soviéticas, os espiões de Cambridge acabaram ajudando a salvar o mundo de uma catástrofe, já que os EUA desistiram da ideia temendo as consequências igualmente desastrosas.

O playboy sedutor
Em 1958, Oleg Kalugin chegou aos EUA como um estudante de intercâmbio para aprender jornalismo na Universidade de Columbia. Aos 24 anos, filho de um membro da polícia secreta de Stalin e falando alemão, inglês e árabe, além de russo, claro, Kalugin usou e abusou de sua simpatia, charme e de galanteios para circular entre os jovens americanos disseminando os ideais soviéticos. Analisava os nomes do Departamento de Estado e identificava quais poderiam ter alguma tendência esquerdista para se aproximar. Oferecia cerca de mil dólares por boas informações e mantinha estreita relação com funcionários de embaixadas. Descoberto em 1970, voltou para a União Soviética, tornando-se, aos 40 anos, o mais jovem general da história da KGB. Mas em 1990, desiludido, deixou o cargo e passou a criticar o Partido Comunista. Buscou refúgio no país que tinha espionado e conseguiu cidadania americana. É professor no Centro de Estudos de Contrainteligência e Segurança dos EUA. Na Rússia, está condenado a 15 anos de prisão por traição. Mas os americanos não pretendem extraditá-lo.

Médicos sabotadores
Agência manipulou o preconceito contra os judeus

Em 13 de janeiro de 1953, quem abrisse o Pravda, jornal oficial do Partido Comunista, daria de cara com a notícia: professores de medicina do hospital do Kremlin estavam "encurtando a vida de personalidades públicas da União Soviética, através de tratamento incorreto e sabotagem médica". Segundo a historiadora Jutta Petersdorf, da Universidade Livre de Berlim, a notícia se baseava num relatório da KGB. A URSS sofreu, então, uma onda de depredações de consultórios. O relatório da KGB era baseado na denúncia de Lydia Timashuk. A médica acusou um colega de propositalmente interpretar errado o exame cardiológico de um membro do PC para deixá-lo morrer. A acusação originou uma série de investigações da KGB, que, segundo Jutta , costumava incitar o preconceito como instrumento de repressão. "As conclusões dessas diligências vincularam a participação de médicos, em sua maioria judeus, à morte de várias lideranças soviéticas, inclusive Gorki, escritor e dramaturgo, herói do povo russo." O relatório encobria mortes inexplicáveis do período do expurgo stalinista, quando milhares de ex-aliados do ditador sumiram ou morreram misteriosamente.

Bugigangas fatais
Os equipamentos mais esquisitos usados pelos espiões soviéticos

Nem só de espiões e informantes viviam os serviços secretos soviéticos. Cientistas, técnicos e engenheiros trabalhavam no desenvolvimento de armas e equipamentos de escuta discretos e eficientes - como uma pistola em forma de batom, que disparava um único tiro. Conheça alguns deles

Câmera escondida
Na década de 1970, agentes soviéticos levavam minicâmeras escondidas, com a lente em forma de botão falso, para fotografar pessoas perseguidas pelo regime comunista. O mecanismo era acionado dentro do bolso do paletó.

Esconderijos portáteis
As gravações em áudio e vídeo precisavam ser escondidas em algum lugar pequeno e insuspeito. Surgiram, então, as canetas e escovas com buracos capazes de armazenar microfilmes. Mas os objetos mais usados para esse fim eram os maços de cigarro.

Gás mortal
A arma criada em 1950 levava no tambor um frasco com ácido prússico. Se o portador apertasse o gatilho, uma fagulha convertia o ácido em gás cianureto. Quem estivesse por perto morria por intoxicação - se o espião estivesse a ponto de ser pego, poderia se matar e ainda arrastar inimigos com ele.

Guarda-chuva assassino
Em 1978, o escritor dissidente búlgaro Georgi Markov esperava o ônibus em Londres quando sentiu uma dor aguda na perna. Virou-se e viu um homem com um guarda-chuva. Georgi morreu dias depois. Tudo indica que a ponta do guarda-chuva estava envenenada.

Sapato espião
Em 1960, a KGB introduziu um transmissor, um microfone e uma bateria dentro de solas de sapatos para monitorar as conversas de quem os calçava.

Vale tudo
Os golpes mais bizarros da KGB
O conto da espiã gata

Um jovem guarda de segurança do corpo de fuzileiros na embaixada dos Estados Unidos em Moscou, Clayton Lonetree, caiu no que podemos chamar de Conto da Espiã Gata. Acabou seduzido pela bela Violetta Sanni, funcionária da embaixada. Quando o caso já estava quente, eis que surge Sasha, um suposto tio de Violeta, para completar a cilada da KGB. O guarda foi intimado a contar o que acontecia na embaixada americana. Meses depois, respirou aliviado quando foi transferido para Viena, na Áustria. Mas Sasha começou a visitá-lo também lá e passou a oferecer-lhe dinheiro. Em 14 de dezembro de 1986, Clayton confessou. Foi despachado para os EUA e respondeu a um processo militar.

GPS em pó
Certo dia, uma funcionária da CIA em Leningrado encontrou suas luvas cobertas por um pó amarelo. Só depois de um ano apareceu outra amostra da substância, entregue por Sergev Vorontsov, contato infiltrado na KGB. Ele disse que a KGB usava o produto para localizar pessoas. Testes revelaram que o pó era nitrofenilpentadienal, capaz de alterar a estrutura celular se absorvido pela pele. Agentes passaram a recusar trabalho em Moscou. Em 1985, os EUA protestaram formalmente contra o uso do pó.

Tecla que eu te escuto
Em 1984, funcionários da embaixada americana em Moscou foram obrigados a trocar máquinas de escrever por lápis. A KGB estava interceptando as batidas de 13 máquinas IBM instaladas em áreas de segurança da embaixada. As máquinas haviam sido modificadas. Um posto de escuta eletrônica do lado de fora do prédio recebia todas as palavras datilografadas.

Chantagens sexuais
Uma agente da CIA em Berlim, em 1986, preferiu revelar o caso homossexual que tinha com outra agente a colaborar com a KGB. Os soviéticos tentaram chantageá-la com um vídeo recheado de cenas picantes entre ela e a amante.

Sem faxina
Quando os russos prenderam, em Moscou, o jornalista Nicholas Daniloff, em 1985, os americanos ativaram a linha Gravilov, um canal direto entre CIA e KGB para resolver pendências. Ele foi solto, mas EUA e URSS expulsaram diplomatas em protesto. Os russos retiraram 260 funcionários que trabalhavam na limpeza da embaixada dos EUA em Moscou. Os americanos tiveram de se virar para limpar e cozinhar.

Saiba mais

LIVROS

  1. O Grande Inimigo - CIA e KGB, James Risen e Milton Bearden, Objetiva, 2005 (Um jornalista e um ex-agente secreto, ambos americanos, contam a história dos últimos dias de conflito contra os espiões soviéticos).
  2. KGB - The Secret Work of Soviet Secret Agents, John Barron, Reader’s Digest Press, 1974. (Bem antes do fim da KGB, já reunia várias histórias de agentes e situações em que a espionagem ocupou o lugar da diplomacia).
  3. KGB and Soviet Disinformation - An Insider’s View, Ladislav Bittman, Potomac, 1985. (Com grande riqueza de informações de bastidores, o ex-espião soviético descreve ações da agência).

domingo, 20 de março de 2011

DO DESCOBRIMENTO ÀS COLONIZAÇÕES

Durante trezentos anos, uma parte do continente americano foi colonizada pelo Reino português. Sendo um desdobramento da expansão marítima, a colonização da América portuguesa possuía as mesmas motivações mercantis e religiosas que haviam impulsionado aquela expansão. A partir das vilas e cidades coloniais, o sertão foi conquistado e ocupado: surgiam as regiões coloniais, onde brancos europeus, nativos americanos e negros africanos conviviam de modo forçado, como colonizadores, colonos e colonizados.

ASSUNTOS QUE VOCÊ ENCONTRA NESTA POSTAGEM:
  1. O Descobrimento
  2. A Posse do Território
  3. Os Nomes da Terra
  4. O Sertão
  5. Papel dos Núcleos Urbanos
  6. Do Sertão às Regiões Coloniais
  7. A Aventura da Colonização
  8. Colonizadores, Colonos e Colonizados

1. O Descobrimento

Há cinco séculos, no início de março de 1500, partiu de Lisboa, a principal cidade do Reino português, uma expedição de treze navios. Ia em direção a Calicute, nas Índias.

Era a maior e mais poderosa esquadra que saía de Portugal. Dela faziam parte mil e duzentos homens: famosos e experientes navegadores e marinheiros desconhecidos. Eram nobres e plebeus, mercadores e religiosos, degredados e grumetes. Parecia que todos os portugueses estavam nas embarcações que enfrentariam, mais uma vez, o Mar Tenebroso, como era conhecido o Oceano Atlântico.

A expedição dava prosseguimento às navegações portuguesas. Uma aventura que, no século XV, distinguira Portugal, por mobilizar muitos homens, exigir inúmeros conhecimentos técnicos e requerer infindáveis recursos financeiros. Homens, técnicas e capitais em tão grande quantidade que somente a Coroa, isto é, o governo do Reino português, possuía condições de reunir ou conseguir. Uma aventura que abria a possibilidade de obter riquezas: marfim, terras, cereais, produtos tintoriais, tecidos de luxo, especiarias e escravos. Uma aventura que também permitia a propagação da fé cristã, convertendo pagãos e combatendo infiéis. Uma aventura marítima que atraía e, ao mesmo tempo, enchia de medo, tanto os que seguiam nos navios, quanto os que permaneciam em terra.

O rei Dom Manuel I, que a seu nome acrescentara o título de "O Venturoso", confiou o comando da esquadra a Pedro Álvares Cabral, Alcaide - Mor de Azurara e Senhor de Belmonte. Dom Manuel esperava concluir tratados comerciais com o governante de Calicute, o samorim, para ter, com exclusividade, acesso aos produtos orientais. Sua intenção era, também, que fossem criadas condições favoráveis à pregação da religião cristã, por missionários franciscanos. A missão da frota de Cabral reafirmava, assim, os dois sentidos orientadores da aventura das navegações portuguesas: o mercantil e o religioso.

E, ao que parece, Dom Manuel esperava ainda, com essa expedição, consolidar o monopólio do Reino sobre a Rota do Cabo, o caminho inteiramente marítimo até as Índias, aberto por Vasco da Gama, em 1498. Era preciso garantir a posse daquelas terras do litoral atlântico da América do Sul. Terras que, de direito, pertenciam a Portugal, desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494.

Quarenta e cinco dias após a partida, na tarde de 22 de abril de 1500, um grande monte "mui alto e redondo" foi avistado e, logo em seguida, "terra chã com grandes arvoredos", chamada de Ilha de Vera Cruz pelo Capitão, conforme o relato do escrivão Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal.

Em Vera Cruz os portugueses permaneceram alguns dias, entrando em contato com seus habitantes. Em 26 de abril, frei Henrique de Coimbra, o chefe dos franciscanos, celebrou uma missa observada, a distância, por homens "pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos, andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma coisa cobrir, nem mostrar suas vergonhas, e estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto", na descrição de Caminha.

Os portugueses não puderam com eles conversar, porque nem mesmo o judeu Gaspar - o intérprete da frota - conhecia a língua que falavam. Neste momento de encontro, conhecido pelo nome de Descobrimento, a comunicação entre as culturas européia e ameríndia tornou-se possível, somente, por meio de gestos. Duas culturas apenas se tocavam, abrindo margem às interpretações que ressaltavam as diferenças entre elas. Assim, quando um dos nativos "fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar", Caminha concluiu que era "como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra".

2. A Posse do Território


Em 1º de maio, com a celebração de outra missa, tomou-se posse do território em nome do rei de Portugal. Caminha resumiu aquele acontecimento, ao mesmo tempo em que destacava os sentidos mercantil e religioso que orientavam a expansão marítima: "...até agora não podemos saber se haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro (...); porém a terra em si é de muitos bons ares (...); as águas são muitas, infindas; em tal maneira é graciosa, que querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem; porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece, que será salvar esta gente e esta deve ser a principal semente de Vossa Alteza em ela deve lançar; e que aí não houvesse mais que ter aqui esta pousada, para esta navegação de Calicute, bastaria, quanto mais disposição para nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber: o acrescentamento da nossa santa fé".

No dia seguinte, 2 de maio, a expedição partia rumo a Calicute. Uma das embarcações, comandada por Gaspar de Lemos, retornava a Lisboa, levando notícias e alguns produtos encontrados na terra descoberta. Em Vera Cruz permaneceram dois degredados com a incumbência de colher informações sobre o lugar e aprender a língua dos naturais. Soube-se depois que, na noite anterior, dois grumetes haviam fugido de bordo.

Aos dois degredados e dois grumetes, os primeiros europeus a habitar o novo território, aos poucos se somaram outros portugueses, espanhóis e franceses. Eram náufragos, desertores, guerreiros, marinheiros e, sobretudo, traficantes de pau-brasil. Homens que iniciavam a exploração da terra, erguiam feitorias e conviviam com os grupos indígenas, ou a eles se impunham.

Estes momentos da colonização por feitorias, ou período pré-colonizador, e da colonização acidental permitiram ao Reino português acumular informações sobre a terra: acidentes geográficos, flora, fauna e riquezas. Possibilitou, também, maior conhecimento a respeito de seus habitantes: línguas, hábitos e costumes. Entretanto, essas primeiras experiências colonizadoras não seriam suficientes para garantir a posse daquele território, constantemente ameaçado pelas incursões de corsários e traficantes dos reinos europeus rivais.

Três décadas após a chegada da expedição de 1500 ao "porto seguro" da atual baía Cabrália, já no reinado de Dom João III, os governantes portugueses sentiam a necessidade de manter seus domínios americanos. Para tal era preciso um povoamento efetivo, só conseguido com o patrocínio da Coroa.

Povoar para defender, colonizar para povoar. A aventura da expansão marítima começava a se desdobrar em uma nova aventura, a da colonização oficial.

Uma aventura que seria tão emocionante quanto aquela que lhe dera origem, porque tanto atraía quanto provocava medo. Uma aventura que trocaria o Mar Tenebroso pelo amplo, silencioso e não menos amedrontador Sertão. E, ainda, uma aventura que transformaria o encontro de duas culturas na convivência forçada de europeus e ameríndios, logo seguida de negros africanos, sob a dominação dos primeiros.

3. Os Nomes da Terra


Durante muitos anos, as terras pertencentes ao rei de Portugal na América receberam diferentes denominações: Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz e Terra do Brasil. Os dois primeiros nomes refletiam o sentido da propagação da fé e, o terceiro, o sentido mercantil da expansão marítima portuguesa. O brasil, madeira útil para tingir tecidos, era o único produto encontrado no litoral com possibilidade de comercialização em larga escala.

Essas denominações falam, também, dos portugueses e de suas concepções do mundo à época das navegações. Quando, em meados do século XVI, o nome Brasil começou a prevalecer sobre o de Santa Cruz, o cronista João de Barros afirmou ser aquela uma "mudança inspirada pelo demônio, pois a vil madeira que tinge o pano de vermelho não vale o sangue vertido para a nossa salvação". E quando, no início do século seguinte, frei Vicente do Salvador escreveu a primeira História do Brasil, sustentou que "como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que tinha em os desta terra, trabalhou para que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado de cor abrasada e vermelha com que tingem panos, que o daquele divino pau, que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da Igreja".

As disputas a respeito do nome do território evidenciam as divisões da sociedade portuguesa, na qual os valores e personagens, associados ao que então começava a ser identificado como moderno, encontravam grandes dificuldades para se afirmar. Predominava um verdadeiro temor a todo tipo de inovação vinda de fora. Muitos atribuíram aos estrangeiros e aos cristãos-novos a responsabilidade das inovações. Diziam que os estrangeiros eram impuros nas idéias, contaminados por terem entrado em contato com o mundo exterior e seus pensamentos. E os judeus, recém convertidos à fé cristã, eram impuros na fé e no sangue. Contra ambos seriam mobilizadas forças poderosas como a Companhia de Jesus e o Tribunal do Santo Ofício - a Inquisição.

Os nomes dados à Terra, assim como a tudo mais, falam ainda sobre o modo como os europeus encaravam os mundos que descobriam. A nenhum deles ocorria respeitar a nomenclatura existente dos lugares e das coisas. Talvez só uns poucos se interessaram em saber por que os nativos chamavam Ibirapitanga à terra que habitavam.

Os territórios alcançados por Cristóvão Colombo em 1492, ficariam conhecidos como América, numa espécie de homenagem ao navegador Américo Vespúcio, que fornecera inúmeras informações aos europeus sobre o novo continente. Aos habitantes das terras portuguesas chamaram índios, demonstrando ignorar a imensa diversidade que apresentavam entre si. Da mesma forma como há muito tempo, em Portugal, eram chamados negros todos aqueles que ocupavam uma posição inferior, independente da cor da pele.

Assim, desde o início, a intenção dominadora marcou as imagens do novo território: dar nomes é conquistar; nomear é tomar; batizar é dominar.

4. O Sertão


A colonização foi, antes de tudo, a aventura da conquista e ocupação do sertão.

Para os colonizadores portugueses, as terras americanas significavam um imenso vazio a ser preenchido com seus interesses, concepções e valores. Um grande deserto, um desertão como as representavam. Daí a origem do nome sertão.

Um sertão que, como o Mar Oceano, exercia atração e gerava medos.

Medos de seres reais e imaginários, de animais e plantas fantásticos, dos índios considerados bárbaros e selvagens, dos caminhos e grotões. Medos que ainda hoje se apresentam em denominações que traduzem angústia, ameaça e dúvida: Turvo, Encruzilhada, Sumidouro, Brumado, Rio das Mortes.

Atração provocada pelas riquezas do sertão: valiosas madeiras, plantas miraculosas, aves e animais desconhecidos e metais preciosos. Atração provocada pelo número incalculável de pagãos e de idólatras - os adoradores de ídolos que deveriam ser convertidos à fé cristã.
Empreender a colonização significava, então, impor a ordem e a dominação sobre um território e sobre as pessoas que ali viviam, para transformá-las em súditos do Rei de Portugal, em cristãos e trabalhadores forçados. Pessoas sempre apresentadas como portadoras de falhas, faltas e ausências. Em sua carta a Dom Manuel I, o escrivão Pero Vaz de Caminha já sublinhara a ausência de vestimentas dos nativos, o fato de não lavrarem a terra nem criarem animais, a necessidade e a importância da conversão à verdadeira fé. Anos mais tarde, outros cronistas e viajantes, como Pero de Magalhães Gandavo, em 1570, chamavam a atenção para um outro tipo de ausência. A língua falada pelos nativos não possuía as letras F, L e R, demonstrando que lhes faltavam Fé, Lei e Razão. Daí a permanente desordem em que viviam. Não por outras razões, tais pessoas e as terras que habitavam deveriam ser dominadas e ordenadas pelos colonizadores.

Os colonizadores portugueses conquistaram o sertão: formando cidades e vilas, plantando canaviais, extraindo metais preciosos ou criando gado. Impunham a autoridade do rei, difundiam a fé cristã e transformavam índios e negros africanos em escravos. Buscavam construir o Novo Mundo à semelhança do Velho Mundo, de onde vieram. No final do século XVI, o padre jesuíta Fernão Cardim, com certo orgulho, observava: "Este Brasil já é outro Portugal."

Quase sempre a imposição da ordem e da dominação dos colonizadores significou o desaparecimento de parte considerável das populações indígenas e africanas, além de muitos dos seus conhecimentos.

5. Papel dos Núcleos Urbanos


A ocupação do vasto território - o sertão - tinha como ponto de partida a criação de núcleos urbanos: vilas e cidades coloniais.
Foi assim desde a primeira vez, em 1532, com a expedição de Martim Afonso de Sousa. Ao chegar ao porto de São Vicente - ponto de interseção da costa do pau-brasil e da costa do ouro e da prata, o Capitão fundou, em 22 de janeiro, a primeira vila portuguesa na América: São Vicente. Pouco tempo depois fundou uma outra, "nove léguas dentro pelo sertão, a borda de um rio que se chama Piratininga", conforme anotou seu irmão, Pero Lopes de Sousa, no Diário da Navegação. Martim Afonso de Sousa cumpriu o principal objetivo de sua expedição: iniciar a colonização do litoral para melhor defendê-lo das incursões estrangeiras. O Capitão repartiu os homens que o acompanhavam pelas duas vilas inauguradas. Logo após, distribuiu sementes, cabeças de gado, instrumentos agrícolas e lotes de terras, as sesmarias. Nomeou autoridades e impôs a justiça régia.

Da mesma forma ocorreu entre 1534 e 1536, quando Dom João III criou o sistema de capitanias hereditárias. Na Carta de Doação o rei determinava, aos donatários ou capitães-generais, a fundação de vilas nas capitanias que deveriam possuir "termo e jurisdição, liberdades e insígnias de vilas, segundo foro e costumes de meus Reinos". Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, ergueu cinco povoações, depois representadas em seu brasão. Apenas três ficaram conhecidas: Igaraçu, Olinda e Paratibe.

Foi ainda assim em 1548, quando Dom João III instituiu o Governo Geral. Tomé de Sousa, escolhido para exercer o cargo de governador, recebeu o Regimento que ordenava fosse feita "uma povoação grande e forte em um lugar conveniente, para daí se dar favor e ajuda às outras povoações". A "povoação forte e grande" seria Salvador, a primeira cidade brasileira, inaugurada de forma solene, em primeiro de novembro de 1549. Localizada na capitania da Bahia de Todos os Santos, foi comprada pelo rei dos herdeiros do antigo donatário para ser a sede do novo governo.

São Vicente, Olinda, Igaraçu, Salvador, Rio de Janeiro, Filipéia de Nossa Senhora das Neves, e as demais cidades surgidas nos primeiros tempos de colonização, eram núcleos pequenos. Além das casas dos poucos moradores, apenas se destacavam a igreja, a sede da câmara municipal e a cadeia. Em todos estava presente o pelourinho: coluna de madeira ou pedra, colocada em praça ou lugar público, simbolizando a autoridade e a justiça régias. Em alguns núcleos encontravam-se o forte, o colégio dos jesuítas e a santa casa da misericórdia. Essas construções representavam monumentos da conquista empreendida pelos colonizadores, expressando a ordem do Império e da Fé que ia sendo imposta.


As cidades e vilas coloniais nem sempre possuíam muralhas de defesa. As que existiam eram de madeira ou de palha, bastante vulneráveis e prontas para remoção quando havia expansão ou mudança do núcleo. Em nada se pareciam com as muralhas das antigas e medievais cidades da Europa, cujas pesadas portas, abertas durante o dia, davam passagem aos forasteiros e às mercadorias que chegavam de regiões próximas ou longínquas.

Mesmo nesses núcleos sem muralhas, duas "portas" marcavam a existência cotidiana dos habitantes. Por uma delas, sempre aberta para o exterior, em especial para o Reino português, chegavam coisas e pessoas necessárias à difusão da Fé e à construção do Império. Eram religiosos, funcionários régios e escravos negros africanos. Por esta mesma porta saíam riquezas geradas pela colonização, súditos e fiéis que se dirigiam ao Reino. A outra porta abria-se para o sertão. Por ela passavam tudo e todos cuja missão era preencher aquele imenso vazio. Ao mesmo tempo, entravam, sobretudo, atração e medo.

6. Do Sertão às Regiões Coloniais
Cidades e vilas coloniais eram o ponto de partida da colonização portuguesa na América.

CLIQUE NA IMAGEM E VEJA O PROCESSO DE OCUPAÇÃO


Pela "porta" que se abria para o sertão passavam todos que iam conquistar e ocupar aquele vasto território, transformando-o em uma região colonial. Eram leigos e religiosos, guerreiros e missionários, comerciantes e funcionários régios.

Os donatários doavam sesmarias aos cristãos que demonstrassem condições para aproveitá-las. Esses homens escravizavam os nativos, plantavam cana-de-açúcar, criavam gado e erguiam engenhos. Estavam se transformando em colonos.

Nas últimas décadas do século XVI, o número de negros africanos nas fazendas de cana-de-açúcar e nos engenhos começou a aumentar. Eles eram utilizados como escravos, em substituição aos nativos.

Homens livres, mas sem recursos para conseguir uma sesmaria, obtinham autorização de um senhor de engenho ou de um fazendeiro para morar em suas terras. Em troca, prestavam alguns serviços e assumiam certas obrigações. A defesa da propriedade era uma delas. Defesa em caso de ataques de grupos indígenas hostis, de insurreição ou fuga de escravos, de hostilidade de proprietários vizinhos ou ameaça de estrangeiros. Estes homens livres passaram a ser chamados de moradores ou agregados, à medida que também estavam se tornando colonizados.

Os jesuítas fundavam aldeamentos, onde os nativos reunidos recebiam ensinamentos da fé cristã e eram habituados ao trabalho sedentário. Nativos que estavam sendo transformados em fiéis e em colonizados.

A colonização começava a preencher o vasto sertão com canaviais, cabeças de gado, escravos negros e índios. E ainda com senhores de engenho, fazendeiros, jesuítas, guerreiros, comerciantes, moradores e agregados. Enfim, com colonizadores, colonos e colonizados. A colonização ia transformando o sertão em região colonial, um território dominado e submetido aos interesses do Reino de Portugal.

No decorrer dos séculos XVI, XVII e XVIII a colonização avançou pelo território e as diferentes regiões foram se constituindo. O ponto de partida continuava o mesmo: a criação de núcleos urbanos.

Foi assim nas Minas Gerais. Nos últimos anos do século XVII e primeiros do século seguinte, a descoberta de metais preciosos nos sertões das Gerais provocou conflitos de extrema violência - a Guerra dos Emboabas. Paulistas que haviam descoberto ricas jazidas se opunham aos "estrangeiros" que para lá afluíam, os emboabas. As autoridades portuguesas transformaram os arraiais criados por paulistas e emboabas em vilas "para que nelas, e em seus termos, vivessem os mesmos Povos em sociedade, segundo as leis", conforme recorda José João Teixeira Coelho, na sua Instrução para o governo da Capitania de Minas Gerais. A imposição da ordem metropolitana fazia surgir a região das Minas Gerais, um território submetido aos interesses dos colonizadores.

7. A Aventura da Colonização


A aventura da colonização criava a Colônia, um território e sua população submetidos à dominação política e jurídica de uma Metrópole. A colonização do vasto sertão sob a direção da Coroa portuguesa estabelecia uma relação colonial.

Colônias enquanto regiões submetidas ao poder de um Estado metropolitano existiram em diferentes momentos das experiências históricas vividas pelos homens. E em cada um desses momentos a experiência da relação colonial assumiu um caráter particular.

Durante a Idade Moderna, as relações entre a Metrópole - o Reino português - e a Colônia - a Terra do Brasil - estiveram sempre referidas aos sentidos ou objetivos da expansão marítima. Naquela época, a Colônia era vista como o espaço que possibilitava a concretização dos interesses mercantis e religiosos que moviam aquela expansão. Era o território onde deveria ocorrer a expansão da Fé e do Império, ampliando-se, assim, o número de súditos da Monarquia portuguesa e de fiéis da Igreja. E a Colônia deveria existir em benefício da Metrópole, assegurando-lhe riqueza, poder e prestígio no conjunto dos Estados modernos europeus.

As relações Metrópole - Colônia nos tempos modernos possuíam uma outra marca distintiva, também decorrente do modo como se dera a expansão marítima: o monopólio ou o "exclusivo", como então se costumava dizer.

Os navegadores portugueses haviam enfrentado o Mar Tenebroso. Desejavam controlar, com exclusividade para o Reino, o comércio dos produtos que encontrassem e os caminhos que a eles conduzissem. Os missionários aproximavam-se dos pagãos e infiéis para convertê-los à fé cristã, ou seja, monopolizar suas almas. E o soberano português esperava transformar as populações que habitavam terras distantes em súditos do Estado absoluto que governava.

8. Colonizadores, Colonos e Colonizados



Com a aventura da colonização do território americano não deveria ser diferente. Funcionários régios, missionários, mercadores e nobres transformaram-se em colonizadores. E, a partir dos núcleos urbanos, procuravam monopolizar as atividades que caracterizavam o dia-a-dia das regiões coloniais. Eram colonizadores os mercadores que monopolizavam as trocas comerciais, como os negociantes de grosso trato que faziam o comércio com o Reino. Eram colonizadores também os traficantes de escravos negros do litoral africano para os portos da colônia americana; os mercadores de sobrado, com suas lojas; e os mascates ou cometas que percorriam o interior das regiões abastecendo fazendas, engenhos e outros pontos distantes. E havia os religiosos: bispos, párocos e missionários que convertiam os pagãos, zelavam pela manutenção da fé cristã, davam instrução aos filhos dos colonos e aldeavam os nativos. Eram colonizadores ainda os responsáveis pela administração colonial, como os governadores, os donatários, os ouvidores, os provedores da fazenda, os almotacés, entre muitos outros, que arrecadavam os tributos, vigiavam os súditos e impediam a difusão de idéias que se opunham ao poder absoluto do soberano português. Mas o principal dos colonizadores era o próprio Rei de Portugal. Dessa forma, os colonizadores dedicavam-se às atividades comerciais, administrativas e religiosas, cabendo aos colonos as atividades ligadas à produção.

Nos primeiros tempos, a colonização pôde se efetivar através da lavoura açucareira. A atividade agrícola imprimia à experiência colonizadora a marca de uma colonização de exploração. Num primeiro momento voltava-se para a obtenção de gêneros agrícolas e, mais tarde, de metais preciosos, para o mercado europeu. Isso atendia aos objetivos da política mercantilista do Reino português.

Eram colonos os senhores de engenho, os fazendeiros, os lavradores, os proprietários de lavras auríferas e de oficinas artesanais, os donos de charqueadas e os criadores de gado. Eles eram os proprieetários dos meios - escravos, terra e equipamentos - que permitiam a realização de atividades produtivas numa colonização de exploração.
Os colonizados eram os escravos. Inicialmente, eram apenas os nativos americanos e, a partir das duas últimas décadas do século XVI, cada vez mais, africanos. Colonizados eram também os agregados, os moradores, os capangas e os vadios: homens livres e pobres que raramente encontravam ocupação produtiva.

As regiões coloniais ganhavam vida com as relações do dia-a-dia entre colonizadores, colonos e colonizados. Elas revelavam a condição de superioridade desfrutada pelos colonizadores. Ressaltavam, ainda, a importância que os colonos possuíam em suas propriedades e as variadas formas de dominação a que os colonizados estavam submetidos.

Inconformados com sua condição, muitas vezes os negros escravos fugiam, abandonando a região, um espaço de opressão. Formavam, então, um quilombo, um espaço de liberdade. Entretanto, entre as regiões coloniais e os quilombos sempre existiram trocas dos mais diversos tipos e trânsito de habitantes.

Insatisfeitos com a vida que levavam, agregados, moradores e outros homens livres e pobres abandonavam, com freqüência, as terras onde viviam. Buscavam outras regiões ou perambulavam pelos sertões à procura de riquezas e aventuras.
































sexta-feira, 18 de março de 2011

FACILITANDO A VIDA...

Resumo sobre a Vinda da Família Real

1. Antecedentes

* O processo de independência do Brasil começou em 1808, quando a família real portuguesa veio para o Brasil.

* O motivo desta vinda, está ligado aos interesses de Napoleão Bonaparte, que desejava dominar a Europa.

* Então imperador da França, Bonaparte derrotou exércitos de vários países. No entanto, a Inglaterra, por ser uma ilha, oferecia grande resistência.

* Isto porque a marinha inglesa era mais poderosa do que a marinha francesa, fazendo com que Napoleão sofresse uma grande derrota naval, na Batalha de Trafalgar.

* Não conseguindo vitória militar contra a Inglaterra, Napoleão criou uma forma de enfraquecê-la economicamente, através do Bloqueio Continental.

2. Bloqueio Continental

* O Bloqueio Continental foi um decreto napoleônico de 1807, que proibia todos os países europeus de comercializarem com a Inglaterra.

* Napoleão achava que, enfraquecendo os ingleses economicamente, poderia facilmente dominá-los.

* Portugal, por ser um antigo aliado da Inglaterra, desobedeceu ao bloqueio. Napoleão logo acionou suas tropas para invadir o reino português.

* Temendo a perda de seu poder – e sob a proteção da Inglaterra – o príncipe regente D. João fugiu com a família real portuguesa, vindo para o Brasil.

3. Quem foi D. João?

* No período napoleônico, D. João era príncipe regente de Portugal pois, sua mãe, D. Maria I, não podia governar devido a problemas mentais.

* Em 1818, com a morte de sua mãe, D. João foi coroado rei, com o título de D. João VI.

* Foi casado com a princesa espanhola Carlota Joaquina, com quem teve três filhos e seis filhas.

4. A viagem

* D. João fugiu com, aproximadamente, 15 mil nobres portugueses, em 14 embarcações.

* Como não sabiam ao certo quanto tempo iam ficar no Brasil, os nobres trouxeram riquezas, documentos, bibliotecas, coleções de arte e tudo o que podiam transportar.

* Depois de algumas semanas de viagem, uma forte tempestade separou as embarcações. Algumas, como a de D. João, foram para Salvador. As restantes, para o Rio de Janeiro.

* De Salvador, D. João transferiu-se para o Rio de Janeiro, em março de 1808. E foi nesta cidade que ocorreram as maiores mudanças efetuadas em seu governo.

5. A chegada

* Ao chegar no Rio de Janeiro, D. João foi recebido com grandes festas, preparadas por seus amigos e funcionários.

* Mas a população do Rio de Janeiro não apreciou muito a vinda da família real. Em 1808, o Rio de Janeiro tinha em torno de 60 mil habitantes, sendo que 40 mil eram escravos.

* Os 15 mil membros da família real causaram uma verdadeira “avalanche humana” na cidade, obrigando D. João a tomar uma medida impopular.

* Para abrigar tantos nobres, D. João mandou despejar os moradores das melhores residências da cidade, mandando afixar, nas portas, as letras P.R. Esta sigla significava “Príncipe Regente”, ou “Propriedade do Rei”. Porém, a população interpretava como “Ponha-se na rua” ou “Prédio roubado”.

* Acomodado no Rio de Janeiro, D. João começou a efetuar uma série de mudanças econômicas e culturais que iriam mudar não só a cara da cidade, como também futuro do país.

6. Abertura dos Portos

* A primeira coisa que D. João fez, ao chegar ao Brasil, foi abrir os portos brasileiros a todas as nações amigas.

* Como o império português tinha agora sua sede no Brasil, Portugal só poderia comercializar com outros países a partir dos portos brasileiros.

* Quem saiu ganhando foram os ingleses que, naquela época, dominavam o comércio mundial. Prejudicada pelo Bloqueio Continental, a Inglaterra viu abrir um amplo mercado no Brasil.

* Os principais portos brasileiros foram tomados por mercadorias inglesas. Havia, inclusive, produtos de inverno que, no calor tropical do Rio de Janeiro, não tinham muita utilidade.

* A Abertura dos Portos também rompeu com o pacto colonial entre Brasil e Portugal, enfraquecendo a influência da metrópole sobre a colônia, e criando as condições para a proclamação da independência, em 1822.

7. Mudanças econômicas

* Outras medidas tomadas por D. João serviram de estímulo para as atividades econômicas do Brasil.

* Entre elas, podemos destacar a anulação da lei que proibia a instalação de indústrias no país.

* Isto permitiu a abertura de fábricas e usinas, sendo que a produção de ferro obteve bastante progresso.

* A produção agrícola também cresceu, surgindo o café, ao lado do açúcar e do algodão. O café, pouco tempo depois, passaria a ocupar o primeiro lugar nas exportações brasileiras.

* Não podemos deixar de destacar a fundação do Banco do Brasil, que se tornou símbolo da economia liberal no país.

8. Mudanças culturais

* A cultura do país passou por grandes transformações, a partir da vinda de D. João VI.

* Vários cursos foram criados no Rio de Janeiro e Bahia, como cirurgia, química, agricultura, desenho técnico, entre outros.

* Foi fundado o Museu Nacional, o Observatório Astronômico, a Biblioteca Real e a Imprensa Régia.

* Além disso, a arte se destacou com a vinda da Missão Francesa ao Brasil, em 1816. Debret foi um dos grandes pintores da missão, e retratou cenas do cotidiano brasileiro, na época.

* Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1821, as capitanias passaram a se chamar províncias.











domingo, 13 de março de 2011

PARA VOCÊ PROFESSOR QUE ESTÁ SEMPRE ATUALIZADO...

Que tal registrar histórias locais usando tecnologia?
Saiba como é possível pesquisar conteúdos de História, utilizando recursos tecnológicos


A internet apresenta leitura quase inesgotável de fontes de pesquisa. Para que se faça bom proveito de tanta riqueza, a classe precisa ter claros os objetivos da investigação. Em seguida, é importante discutir onde encontrar informação confiável. Nesse ponto, seu trabalho é ensinar que, diferentemente do que a garotada costuma acreditar, fatos históricos não são contados de maneira neutra. Qualquer relato traz embutido certa dose de opinião do autor (se isso já é verdade mesmo para os verbetes enciclopédicos, imagine o risco de um aluno confiar cegamente, ao pesquisar sobre a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, em um site que defende o revisionismo do Holocausto, argumentando que o extermínio de judeus não ocorreu).

As tecnologias também permitem que os estudantes produzam e compartilhem com facilidade registros da história local. Um exemplo é a parceria do Museu da Pessoa (www.museudapessoa.net), uma instituição que mantém um site sobre histórias de vida, com escolas municipais de São Paulo. Professores, estudantes e funcionários contam relatos pessoais em vídeo, áudio e texto e os colocam em uma comunidade virtual. Narrando suas experiências e contemplando outras, os alunos aprendem que os testemunhos são um importante ponto de partida para conhecer melhor uma realidade ou determinada cultura. "A história de cada um importa", explica Marcia Elias Trezza, coordenadora do projeto.

sábado, 12 de março de 2011

Tremor no Japão com magnitude 8,9 é o 7º mais forte do mundo, dizem EUA

Terremoto deixa 60 pessoas mortas e já é considerado o maior da história do país
O terremoto de magnitude 8,9 ocorrido nesta sexta-feira no Japão já é considerado o sétimo mais intenso já registrado na história, de acordo com dados do governo dos Estados Unidos.



Segundo informações do programa de ameaça de terremotos da agência geológica americana (USGS, na sigla em inglês), o mais forte terremoto da história ocorreu em 22 de maio de 1960, em Valdívia (Chile), com magnitude 9,5.

Este tremor matou 2.000 pessoas e gerou um maremoto com ondas de até 10 metros. As ondas apagaram do mapa cidades inteiras na costa chilena e fizeram vítimas também em outros países banhados pelo Oceano Pacífico.

O segundo maior terremoto já registrado ocorreu no Alasca (EUA), em 27 de março 1964: um abalo de magnitude 9,2 fez 15 vítimas fatais e gerou um tsunami que matou outras 128 pessoas. Seu epicentro foi na região de Prince William Sound, no sul do Alasca.

A ilha de Sumatra, na Indonésia, registrou em 26 de dezembro de 2004 um terremoto de magnitude 9,1, causando um tsunami que matou 230 mil pessoas em 14 países da região. O tremor ocorreu a 30 quilômetros de profundidade no Oceano Índico.

Em 4 de novembro de 1952, um abalo de magnitude 9,0 na península de Kamchatka, extremo oeste da Rússia, gerou ondas gigantes que chegaram até o Havaí, causando prejuízos financeiros de até US$ 1 milhão, mas nenhuma vítima fatal.

Também de magnitude 9,0, dois grandes terremotos abalaram a região de Arica, fronteira entre Peru e Chile, em 13 de agosto de 1868. Diversas cidades foram afetadas pelas ondas causadas pelo tremor, que vitimou cerca de 25 mil pessoas.

Outro terremoto de magnitude 9,0 ocorreu em 26 de janeiro de 1700 em uma região de cerca de 1.000 km na costa noroeste da América do Norte, entre os Estados Unidos e o Canadá. O tsunami que se seguiu chegou até o Japão. Não há estimativa de vítimas.

Em sétimo lugar, fica o tremor de magnitude 8,9 (segundo medição da Agência Meteorológica do Japão) que atingiu o Japão por volta das 15h (horário local) de 11 de março de 2011. O epicentro foi na costa próxima à província de Miyagi, a 373 km de Tóquio.

Dois terremotos na história tiveram medida uma magnitude de 8,8. Um ocorreu no Chile, em 27 de fevereiro de 2010, matando mais de 800 pessoas e deixando cerca de 20 mil desabrigados. O epicentro foi a região de Bío-Bío, a cerca de 320 km ao sul de Santiago.

O outro atingiu a costa entre o Equador e a Colômbia em 31 de janeiro de 1906, matando entre 500 e 1,5 mil pessoas. O tremor chegou a ser sentido em San Francisco (EUA) e no Japão.

Três terremotos já foram registrados com magnitude 8,7: Em 1º de novembro de 1755, um tremor de magnitude 8,7 destruiu Lisboa, matando cerca de 70 mil pessoas.

Já em 4 de fevereiro de 1965, um tremor também de magnitude 8,7 atingiu as ilhas Rat, no Alasca (EUA), gerando um tsunami de cerca de 10 metros de altura na ilha de Shemya. Apesar disto, o abalo causou poucos danos.

Em 8 de julho de 1730, um terremoto de igual magnitude atingiu Valparaíso (Chile), gerando um tsunami e causando danos em diversas cidades da costa, mas causando poucas mortes.

Veja mais:
Globo.com

O GRANDE TERREMOTO - A HISTÓRIA CONTA

Em 1º de Novembro de 1755, às 9:45 da manhã, começaram a sentir os habitantes de Lisboa, com espanto e angústia, que o chão lhes tremia por debaixo dos pés. O tremor fora antecedido de um ruído tumultuoso que vinha do interior da terra e que, por si só, não seria assustador, de acordo com a descrição de um contemporâneo que o comparou ao «de muitos coches correndo». Em breves instantes o que se iniciara por uma sacudidela lenta, cresceu com grande intensidade. Era um sábado, dia de Todos-os-Santos, estando as igrejas a transbordar de fiéis que assistiam às missas, o que foi causa de grande mortandade. O abalo durou cerca de sete minutos e transformou, em tão curto tempo para tão desoladora mudança, uma cidade cheia de animação e de movimento, num montão de ruínas. Por volta das 11 da manhã, as vagas de um tsunami gerado pelo choque do tremor chegaram a Lisboa. As águas do Tejo inicialmente desceram, levando consigo os barcos ancorados junto ao cais. Em seguida, começaram a subir de nível, galgaram as paredes do cais e avançaram cidade adentro uns 300 a 400 metros. Segundo testemunhos da época, a altura da onda resultante do sismo foi de vinte metros, causando 6000 vítimas entre a multidão que havia sido atraída pelo insólito espectáculo do fundo do rio juncado de destroços dos navios ali afundados ao longo do tempo. Dos 275 mil habitantes que Lisboa tinha então, crê-se que morreram 90 mil. À pergunta inevitável - “E agora, que fazer?” - um ministro teria respondido “Enterrar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos.”


 
 
 
EU RECOMENDO: O livro "A Viagem Marítima da Família Real", de Kenneth Light, ed.Zahar, que reconstitui as aventuras da corte portuguesa na travessia do Atlântico rumo ao Brasil, contando detalhes do dia-a-dia, como se media o tempo e o que comiam, compondo um quadro mais vivo dessa longa viagem.

Nasa divulga primeira imagem do Japão após terremoto e tsunami - Mundo - Extra Online

Nasa divulga primeira imagem do Japão após terremoto e tsunami - Mundo - Extra Online

sexta-feira, 11 de março de 2011

Revolução Acreana

Pressionados pelo advogado José Carvalho, os bolivianos foram forçados a abandonar a região. Para evitar a sua volta, o governador do Amazonas Ramalho Júnior organizou o ingresso no Acre de uma unidade de aventureiros comandadas pelo espanhol Luis Gálvez Rodríguez de Arias. Gálvez partiu de Manaus em 4 de junho de 1899 e chegou à localidade boliviana de Puerto Alonso, a qual teve seu nome mudado para Porto Acre, onde proclamou a República do Acre em 14 de julho de 1899. Apesar disso o governo brasileiro, com base no tratado internacional de Ayacucho assinado em 1867, considerava o Acre como território boliviano e enviou tropas que dissolveram a República do Acre em 15 de março de 1900.

Um motivo complementar para o interesse de Ramalho Júnior na ocupação do Acre foi o fato de Galvez ter descoberto a existência de um acordo diplomático entre a Bolívia e os Estados Unidos estabelecendo que haveria apoio militar norte-americano à Bolívia em caso de guerra com o Brasil.

Nessa época a Bolívia organizou uma pequena missão militar para ocupar a região. Ao chegar em Porto Acre ela foi impedida pelos seringueiros brasileiros de continuar o seu deslocamento. Os brasileiros receberam apoio do governador do Amazonas, Silvério Néri, que enviou uma nova expedição, a Expedição dos Poetas, sob o comando do jornalista Orlando Correa Lópes, que proclamou a Segunda República do Acre em novembro de 1900, tendo Rodrigo de Carvalho assumido o cargo de presidente. Um mês depois, em 24 de dezembro de 1900, os brasileiros foram derrotados pelos militares bolivianos e esta segunda república também foi dissolvida.

Apesar dos dois países negarem o acordo com os Estados Unidos citado anteriormente, em 1901 a Bolívia assinou um contrato de arrendamento do Acre com um sindicato de capitalistas norte-americanos e ingleses. Pelo contrato, o grupo, chamado de Bolivian Syndicate, assumiria total controle sobre a região, inclusive militar. Nessa ocasião governava a Bolívia o general José Manuel Pando.

Em 6 de agosto de 1902 um militar gaúcho chamado José Plácido de Castro foi enviado ao Acre pelo governador Silvério Néri e iniciou a então denominada Revolução Acreana. Os rebeldes imediatamente tomaram toda a região, exceto Porto Acre que somente se rendeu em 24 de janeiro de 1903. Três dias depois, 27 de janeiro, foi proclamada a Terceira República do Acre, agora com o apoio do presidente Rodrigues Alves e do seu Ministro do Exterior, o Barão do Rio Branco, que ordenou a ocupação do Acre e estabeleceu um governo militar sob o comando do general Olímpio da Silveira.

Na Bolívia, o general Pando enviou tropas para combater os invasores brasileiros. Entretanto, antes que acontecesse algum combate significativo, em conseqüência do excelente trabalho da diplomacia brasileira comandada pelo Barão do Rio Branco, os governos do Brasil e da Bolívia assinaram em 21 de março de 1903 um tratado preliminar, ratificado pelo Tratado de Petrópolis em 17 de novembro de 1903.

Pelo Tratado de Petrópolis, a Bolívia abria mão de todo o Acre em troca de territórios brasileiros do Estado de Mato Grosso mais a importância de 2 milhões de libras esterlinas e a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, ligando os rios Mamoré (em Guajará-Mirim-RO, na fronteira Brasil-Bolívia) e o Madeira (afluente do rio Amazonas, que corta a cidade de Porto Velho, em Rondônia), com o objetivo de permitir o escoamento da produção regional, sobretudo de borracha. Joaquim Francisco de Assis Brasil participou ativamente das negociações com a Bolívia, tendo representado o governo brasileiro em sua assinatura.

O Tratado de Petrópolis, assinado em 1903 pelo Barão do Rio Branco e Assis Brasil, foi aprovado por lei federal de 25 de fevereiro de 1904, regulamentada por decreto presidencial de 7 de abril de 1904, incorporando o Acre como território brasileiro. Plácido de Castro, que faleceu em 11 de agosto de 1908, foi primeiro presidente do território do Rio Branco, elevado à condição de Estado do Acre em 15 de junho de 1962. Tanto Rio Branco como Assis Brasil e Plácido de Castro estão homenageados no Acre com os nomes de sua capital (Rio Branco)e de dois municípios (Assis Brasil e Plácido de Castro).