terça-feira, 13 de setembro de 2011

DROGAS NA ADOLESCÊNCIA


A adolescência e as drogas
:: Flávio Gikovate ::

- Os traficantes entram em nossas casas porque encontram portas abertas. E seduzem nossos filhos porque eles têm crescido fracos e sem qualquer esperança.

Temos muitas dúvidas a respeito de quase todas as coisas que nos são importantes. Mas também temos algumas certezas. Elas derivam da observação dos fatos, especialmente daqueles que são indiscutíveis, que não deixam margem para interpretações variadas. Uma dessas certezas tem a ver com o uso de drogas: praticamente todas as pessoas viciadas começaram a usar algum tipo de droga nos primeiros anos da adolescência, entre os 13 e os 17 anos de idade. Isto é válido para o uso de drogas pesadas, mas igualmente acontece com a iniciação ao uso do cigarro normal que, mesmo provocando poucos efeitos psicológicos, determina forte inclinação para a dependência.

Outra certeza que temos é a necessidade urgente de compreendermos melhor o que se passa na cabeça dos nossos jovens, para que possamos impedir que persista a tendência atual, que é a do uso de drogas por um número cada vez maior de pessoas, e que ela venha a envolver praticamente toda a juventude do nosso país. Teremos que providenciar novas atitudes dos pais e da sociedade, especialmente se isto puder ajudar nossas crianças a crescerem com mais força e determinação pessoal.

Sim, porque é fácil colocar toda a culpa do problema das drogas nos traficantes e outros delinqüentes que fazem fortuna com este comércio. A verdade é que eles entram nas nossas casas porque encontram as portas abertas. E eles seduzem nossos filhos porque eles têm crescido fracos e sem esperanças. E isto é nossa responsabilidade. Isso é fruto da excessiva permissividade na educação que nós, indo para o pólo oposto do pêndulo em relação ao modo como fomos criados, lhes transmitimos. É hora de urgentes revisões na educação.

Além do mais, existem importantes características da adolescência que fazem com que o jovem seja presa fácil de traficantes espertos. Uma delas é a peculiar prepotência dos rapazes e moças, a tendência para acharem que sabem de tudo e que podem tudo. Gostam da idéia de que ser adulto é ter coragem para experimentar de tudo, de modo a formar juízo próprio sobre todas as coisas. O conceito geral até que é interessante, mas não vale para todas as coisas. Não tem o menor sentido testas pessoalmente o uso de drogas mais que conhecidas, tanto em seus efeitos agradáveis como em seus malefícios e seu poder para viciar. Mas a prepotência dos adolescentes não conhece o bom senso. Querem apenas afirmar sua independência em relação aos adultos dos quais efetivamente dependem.

Só faz uma verdadeira guerra de independência quem é dependente. A adolescência sempre foi um período muito difícil para os jovens, pois eles têm que assumir, mais ou menos rapidamente, crescentes responsabilidades e se encaminhar na direção da autonomia. Isto é difícil e doloroso, pois uma parte de nós preferiria não ter que crescer e passaria o resto da vida usufruindo aconchego e proteção familiar. Esta parte tem sido muito estimulada pela educação superprotetora, de modo que os esforços das crianças para desenvolverem o outro lado, o da busca da individualidade, são mínimos. A adolescência exige uma aceleração do passo nesta direção, isto por pressões externas que são opostas às tendências que existiam até então.

O que acaba acontecendo é que os jovens se afastam da família e não suportam a sensação de abandono. Não podem voltar atrás e só lhes resta uma solução: substituir o aconchego familiar pelo do grupo de amigos da mesma idade. Desta nova família tiram a força necessária para romper com aquela de onde vieram. Tornam-se independentes de uma forma curiosa: têm que agir de algum modo em oposição aos valores do seu grupo de origem. O grupo de jovens se une e se torna solidário porque tem em comum comportamentos que desagradam aos mais velhos. Tornam-se independentes dos seus pais, provocando uma guerra aberta contra eles e contra seus valores. Estão prontos para agir de um jeito que os aborreça, pois isto será sinal de independência – é como se a independência fosse a dependência de cabeça para baixo! Estão prontos para se unir em grupos que irão adorar usar roupas extravagantes e reprovadas pelas famílias, para fumar cigarros e para experimentar outras drogas que lhes forem oferecidas. Um certo número de jovens irá adorar os efeitos que elas provocam. E aí...

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