quarta-feira, 20 de abril de 2011

Seringueiros e Ribeirinhos (9º ano)

Os seringueiros acreanos são oriundos dos estados do nordeste do Brasil, sobretudo do Ceará. Vieram para o Acre, primeiramente, motivados pela seca que atingiu o nordeste a partir de 1877, arrasando as plantações e criações de animais. Vieram também, em grande parte, motivados pela busca de melhoria de vida através do tão falado "ouro negro" (a borracha). Já chegavam endividados pelos custos gerados pela longa viagem, e logo se viam obrigados a aumentar sua dívida adquirindo junto ao patrão seringalista os mantimentos e ferramentas necessárias para a sobrevivência e o trabalho diário na extração do látex.

Carne seca, espingarda, munição, a faca de cortar seringa, o balde, eram alguns dos utensílios que o barracão costumava fornecer. Essa forma de endividamento ficou historicamente conhecida por "sistema de aviamento", através do qual o seringueiro tinha que se aviar com o patrão, que ditava os preços. Nesse sentido, era quase impossível o seringueiro se libertar do patrão.

De início, como não conheciam ainda as técnicas do corte e de sobrevivência na floresta, eram apelidados de "brabos", denominação que carregavam consigo até adquirirem experiência com a nova rotina com a qual se deparavam. O seringueiro passou a trabalhar duro, diariamente, se dedicando exclusivamente à extração da seringa, pois inicialmente não podia plantar, nem para subsistência, nem tão pouco criar animais.

Essa realidade só começou mudar quando, em 1913, a produção dos seringais de plantio da Ásia superou a produção brasileira ocasionando uma queda no preço do produto, levando os seringais da Amazônia a uma grave crise. A partir de então, o seringueiro converteu-se em agricultor e criador de pequenos animais e, após ter sobrevivido à crise do primeiro ciclo da borracha, desenvolveu uma economia familiar baseada em múltiplos usos dos recursos da floresta, da qual ele passou a ser profundo conhecedor.
A Segunda Guerra Mundial impulsionou o que chamamos de segundo ciclo da borracha. Isso se deu, após a tomada dos seringais asiáticos pelos japoneses privando os países aliados contra o nazismo do produto que ficou conhecido como nervo da guerra: a borracha. O governo brasileiro, incentivado pelos norte-americanos, promoveu uma política de estímulo à produção da borracha dando início à "batalha da borracha". Surgiu então a figura do "soldado da borracha" recrutado do nordeste do país para os seringais da Amazônia, objetivando o aumento da produção da seringa.

O fim da guerra causou nova queda nos preços do produto e a consequente falência dos seringais. A maioria dos seringalistas falidos abandonou suas propriedades dando origem a uma nova categoria nas relações de trabalho que é a do seringueiro autônomo, onde o mesmo passou a viver livre dos laços de dependência com o patrão. Ganha força a figura do marreteiro, comerciante ambulante, que percorria os seringais viajando pelos rios e varadouros oferecendo produtos diretamente aos seringueiros, o que muito incomodava os seringalistas donos de barracão.

Na década de 70, tem início uma nova fase na trajetória de lutas dos seringueiros acreanos. Isso porque o governo federal, com apoio do governo estadual passou a oferecer incentivos fiscais para a implantação da pecuária na região. Fazendeiros, vindos do centro-sul do país adquiriam terras a preços baixos e nela passaram a plantar pasto para a criação de gado. Vinham do Paraná, Mato Grosso ou São Paulo, mas ficaram mesmo conhecidos por "paulistas".

Essa política forçou o êxodo de seringueiros e extrativistas para as periferias das cidades e para o país vizinho, a Bolívia. Os que se recusaram a sair das colocações se organizaram com a ajuda da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), criando os sindicatos de trabalhadores rurais que atuaram na defesa da floresta e na briga pelo direito a terra. Os seringueiros passaram a praticar os "empates", manifestação pacífica em que protegiam as árvores se posicionado a frente delas numa forma de impedir a derrubada, o desmatamento.

A luta pela terra ocasionou a morte de muitas lideranças sindicais no Acre, como Wilson Pinheiro, Evair Higino e Chico Mendes. Francisco Alves Mendes Filho ficou conhecido mundialmente pela luta em favor da preservação do modo de vida das populações tradicionais. Ele propôs a união dos povos da floresta buscando unir os interesses dos índios, seringueiros e ribeirinhos. Por insistir nesse ideal foi assassinado, em 22 de dezembro de 1988, uma semana após completar 44 anos.

A criação das Reservas Extrativistas como Unidades de conservação de Uso Direto, definidas como territórios destinados ao uso por populações com tradição no uso sustentável dos recursos naturais, representa um marco na trajetória de lutas dos seringueiros acreanos. A primeira delas, criada em janeiro de 1990, foi a Reserva Extrativista do Alto Juruá. Em março do mesmo ano foi criada a Reserva Extrativista Chico Mendes.

É preciso conhecer a trajetória de lutas dos seringueiros acreanos pela sobrevivência na floresta, pela defesa da floresta, e reconhecer os conhecimentos adquiridos ao longo da vivência na floresta.

Ribeirinhos

A ocupação das terras do Acre se deu primeiramente através dos rios, em cujas margens formaram-se os seringais e posteriormente as sedes dos primeiros municípios do Estado. Foi às margens dos rios Acre, Purus, Iaco, Envira, Tarauacá, Juruá e seus afluentes que se estabeleceu uma forma de organização social onde o principal meio de transporte é fluvial. A relação do ribeirinho com o rio, entretanto, não se restringe à sua utilização como meio de locomoção. O cultivo contínuo da região de várzea no período de seca, a pesca e os banhos de rio fazem parte de sua rotina.

É em meio a esse universo que lendas como a do boto são contadas, recriadas e fortalecidas como um componente importante do imaginário das populações que habitam as margens dos rios acreanos.

A maior parte da população ribeirinha do Acre está estabelecida nas regionais do Juruá e do Tarauacá/Envira, onde busca diversificar uma economia de subsistência através do cultivo de frutas, hortaliças e criação de pequenos animais, complementando com a caça, a pesca e o extrativismo vegetal.

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