domingo, 17 de julho de 2011

O Mistério dos Geoglifos


O Mistério dos Geoglifos
Brenna Amâncio

O Simpósio Internacional que aconteceu na Biblioteca da Floresta, nos dias 21 e 22 de julho, trouxe para o debate questões da arqueologia regional que há muitos anos levantam dúvidas. Com o tema Arqueologia da Amazônia Ocidental: Perspectivas Interdisciplinares, o evento atraiu diversos pesquisadores internacionais, além de estudiosos e curiosos.

O assunto geoglifos ainda é muito discutido quando o foco é sua origem e função. Eles são sítios arqueológicos monumentais, cujas figuras somente são bem percebidas se vistas do alto.

Os geoglifos encontrados na parte ocidental da Amazônia, por uma vasta região que engloba o leste do Acre, o sul do Amazonas, oeste de Rondônia e norte da Bolívia, são áreas abertas cercadas por valetas contínuas e muretas de terra, de formatos perfeitamente geométricos. São círculos, retângulos, hexágonos, octógonos e outras figuras de grandes dimensões, possivelmente feitas por populações indígenas que ali viveram por volta do início da era Cristã.

No Acre, esses sítios arqueológicos ocorrem principalmente entre os rios Acre, Iquiri e Abunã (esse último faz fronteira com a Bolívia), todos formadores do alto rio Purus. Um dos municípios com maior incidência de geoglifos é Capixaba: são 49 sítios.

Os geoglifos do Acre foram descobertos em 1977 por uma equipe de pesquisadores durante um inventário, coordenado por Ondemar Ferreira Dias Júnior (UFRJ), do Programa Nacional de Pesquisas Arqueologias da Bacia Amazônica (PRONABA).

De acordo com os resultados de incansáveis estudos dos pesquisadores, acredita-se que os geoglifos representam uma técnica construtiva de espaços destinados a diversos fins que podem ter sido: aldeias fortificadas, locais de encontro ou locais para realização de festas e rituais. E tal como a atual sociedade, que constrói prédios para abrigar diferentes tipos de atividades – casas, igrejas, shopping centers – usando determinadas técnicas de construção, assim eram as estruturas de terra: edificações padronizadas destinadas a atender a diferentes propósitos sociais.

A importância desses sítios é evidente, pois o trabalho envolvido em sua construção, por parte de grupos indígenas que ali viveram há cerca de dois mil anos, sem a ajuda de equipamentos modernos para escavar e transportar toneladas de solo, indica que teria sido necessário um esforço coordenado de muitos braços, com planejamento esmiuçador.

O estudo dos geoglifos pode trazer informações importantes sobre os antigos habitantes dessa região, sobre como viviam, quantos eram, como se organizavam, e ajudar a entender melhor o processo de formação das paisagens no estado.

A pesquisadora da Universidade Federal do Pará Denise Schaan, do Grupo de Pesquisa Geoglifos da Amazônia Ocidental, expôs em sua palestra alguns resultados do levantamento regional destes sítios no Estado do Acre. Ela revela, por exemplo, que a maioria dos geoglifos varia entre 70 e 120 metros, e que foram construídos seguindo uma determinada técnica, ou seja, existia uma unidade de construção mesmo dos sítios mais distantes.

As pesquisas realizadas na tentativa de desvendar a origem e funções dos geoglifos envolvem uma grande equipe interdisciplinar que analisa os mais diversos aspectos destes sítios. No entanto, como avaliou a pesquisadora finlandesa Sanna Saunaluoma, da Universidade de Helsinque, apesar de já terem chegado a algumas respostas, os estudos têm levado os pesquisadores a encontrarem ainda mais perguntas.





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