sábado, 16 de fevereiro de 2013

OS INCAS

 
Os Incas viveram aproximadamente de 3000 a.C. a 1500 d.C. no Peru, Chile, Bolívia e Equador, mais especificamente na Cordilheira dos Andes. Os atuais povos indígenas do Peru são descendentes dos Incas.

Esse povo tornou-se conhecido em todo o mundo pela sua cultura e tradição, pelos objetos de ouro que confeccionavam, pela utilização de pedras em suas obras tais quais estradas nas montanhas, canais de irrigação, etc. Os Incas eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses como o trovão, a lua, o mar, o sol, etc. Sacrificavam animais e humanos em honra aos deuses que cultuavam.
A capital do Império Inca chamava-se Cuzco, e lá havia o maior templo de culto ao deus Sol, o principal deus da religião inca.
A sociedade inca era dividida em três grupos, que se organizavam hierarquicamente formando uma pirâmide: na base ficavam os yanaconas, que eram escravos selecionados para proteger seus senhores; na parte do meio da pirâmide ficavam os nobres que eram membros da família do Inca ou descendentes dos chefes de clãs; e os sacerdotes, denominados de “Grande Inca”, ficavam no topo da pirâmide e realizavam culto ao Sol. Eles eram responsáveis pelos cultos religiosos e pela educação dos jovens.
Homens casavam aos vinte anos e mulheres aos dezesseis. Eles mesmos escolhiam com quem casar e ao realizarem a cerimônia recebiam terras para morar.
Aos 10 anos as mulheres passavam por uma seleção. As mais inteligentes e bonitas, sendo da etnia dos Incas, eram escolhidas e mandadas para Cuzco. Lá eram educadas por mulheres mais velhas. Algumas se tornavam esposas do imperador ou de quem ele indicasse, outras permaneciam virgens para participar do culto solar. Estas se empregavam em fiar e tecer.
O restante do povo era responsável pela produção dos alimentos através da agricultura. A produção dividia-se em três partes: uma destinada ao culto do Sol, uma ao Inca e a outra à comunidade. O excedente de produção era armazenado em celeiros para períodos de fome ou para festejos. Eles contavam também com um eficiente sistema de irrigação.
No comércio não era utilizada nenhum tipo de moeda, mas sim nas feiras era de costume trocar alimentos por outros alimentos ou receber alimentos em troca de serviços prestados. Na maioria das vezes, porém, o povo produzia todo o necessário para a sua sobrevivência, dispensando a prática comercial. Apesar disso, os Incas desenvolveram um sistema numérico e um equipamento para auxiliar a contagem: três cordas indicando a dezena, a centena e a milhar, chamadas de “quipus”. Apenas alguns funcionários manuseavam os “quipus”.
A educação dos homens também era dada nas escolas de Cuzco, mas não era como a das mulheres. Era um sistema bem mais severo, não só com aulas sobre a religião, a história, etc., mas também aprendiam a lutar e fabricar armas além de praticarem violentos exercícios que por vezes os levavam até a morte. Estes que passavam por esta educação tinham a sua orelha furada ao terminarem, para indicar que eles faziam parte de uma elite formada por funcionários que eram chefes valorosos para o Império.
Quanto à sua cultura, praticavam diversas danças, como rituais, cada uma com seu significado e em ocasião adequada à mesma de acordo com os costumes e crenças.
O chamado “Vale Sagrado dos Incas” localiza-se nas cidades de Pisac e Machu Picchu, no Peru, prolongando-se por mais de 100km. Encontra-se a uma altura de 2800 metros acima do nível do mar, com temperatura média anual de 18°C. É chamado assim por ser localizado próximo a Cuzco e ser formado pelas correntezas do rio Willkanuta (Casa do Sol), além de possuir milenares centros administrativos, rica flora e fauna, inumeráveis riachos e cachoeiras entre os bosques mais altos do mundo. Os Incas realizavam uma peregrinação até lá por acreditarem que se tratava do rio sagrado. Para eles o rio era o espelho da Via-Láctea, sendo que esta era o rio sagrado no Céu e aquele o rio sagrado aqui na Terra.
A arquitetura do povo inca também é um fato notável. Além dos enormes desníveis no solo da região, aconteciam muitos terremotos, mas este povo foi tão brilhante em suas construções que até hoje elas permanecem. Tanto os vários quilômetros de estrada entre as montanhas, quanto o sistema de irrigação, as pontes, dentre muitas outras construções. A arte destacou-se, como já falamos através dos objetos de ouro, calçados e tecidos.
Embora tenham sido bastante desenvolvidos, não criaram nenhum sistema de escrita.
 
Fonte: Info escola

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O mito fundador do Acre

O mito sempre fez parte da literatura amazônica. A região que comporta a maior floresta tropical do mundo, desde sua conquista, pelos europeus, é alvo de lendas e fantasias a respeito de suas riquezas naturais e dos nativos que nela viviam. 

Dentre os mitos mais instigantes está o das amazonas, guerreiras indígenas que viviam em grupos alheios aos homens e que, segundo relatos, tinham um dos seios cortados. Essa “república das mulheres”, para utilizar o conceito de Antônio Esteves em seu livro A ocupação da Amazônia, atraiu muitos aventureiros à Amazônia. Sabe-se que até o astrônomo francês Charles Marie de La Condamine, membro da Academia de Ciência de Paris, foi seduzido pela lenda, a ponto de pesquisar, entre os nativos, o local onde viviam essas mulheres.

Os conquistadores, muitas das vezes, motivaram-se exclusivamente em lendas ao virem à Amazônia, o caso das minas de El Dourado é apenas um exemplo. O certo é que os mitos têm a capacidade de estimular comportamentos e cimentar valores.

O Acre também tem os seus mitos. Mitos que até hoje são cultivados por políticos e empregados com o fim de formar uma identidade cultural entre os membros das diferentes grupos sociais. A opção por narrar a história da anexação do Acre ao Brasil de forma épica e fantástica – em que o Acre é criado sob a égide de um grande herói, Plácido de Castro, e a identidade dos acreanos é formada sob a influência do patriotismo dos seringueiros - é a base do mito fundador Acreano. De acordo com o mito, o povo acreano deveria se orgulhar por ter como marca de “acreanidade”, tão glorioso passado.


A historiografia oficial é o principal veículo de difusão do mito fundador sobre o Acre. A serviço dos detentores do poder político-econômico, essa historiografia estabelece “sentidos” sobre o passado, próprios de um grupo social, como sendo universais. Ou seja, mostra como verdade algo que é apenas uma versão do fato histórico. Nega a possibilidade de novas interpretações e sufoca a polissemia, característica nata da escrita historiográfica. Não significa, no entanto, que a versão oficial consiste em mentiras. Mas que deve ser encarada como uma representação do acontecimento histórico, baseada na visão de mundo da classe dominante.

A grande questão é desencantar a afirmação de que no Acre houve um passado glorioso, patriótico e revolucionário. Precisa-se divulgar também as “leituras não autorizadas” sobre o passado acreano. O cidadão tem o direito de conhecer a multiplicidade de versões sobre a Revolução Acreana. O patriotismo e o termo revolução podem ter sido usados para dissimular a ganância dos “brasileiros do Acre” pelos lucros “astronômicos” da borracha e encobrir diversos crimes cometidos pelos Acreanos: assassinatos, sonegação de impostos, invasão de terras estrangeiras etc. Será que os humildes seringueiros, semi-escravizados pelo barracão teriam se identificado com o “inferno verde” a ponto de irem a guerra por patriotismo? Teria sido Plácido de Castro o GRANDE responsável pela anexação do Acre ao Brasil? Percebemos que há muitas questões que não são mencionadas pelos escribas do poder.

Houve um processo de instauração do sentido único. A versão oficial não é natural, ela foi historicamente legitimada e ideologicamente construída por grupos sociais que ambicionavam a hegemonia. Hoje, o mito é alimentado por governos com tendências autoritárias. O discurso fundador cria uma dependência entre os cidadãos e os seus heróis atuais, os políticos; transmite a ideia de um Estado sem conflitos sociais; forja uma unidade social em torno de um projeto político.

Atualmente, percebe-se que a ideia de confiar o destino da sociedade a heróis, virou uma política de governo. Por isso reaviva-se o culto a personagens como Plácido de Castro e Chico Mendes. A elite inventa os “grandes homens” para depois se dizer continuadores das lutas deles. Através do mito fundador cria-se um ambiente político de cooperação e de passividade diante dos desmandos praticados. O povo deixa de se ver como agente histórico de mudanças.

A história é escrita por pessoas que vivem intensamente relações de poder em todas as áreas da vida. Impossível é, para um historiador, escrever sem propagar os juízos de valor do grupo social a que pertence. A história não é neutra, muito menos imparcial. Os mitos estão em todas as partes, inclusive em muitos livros de história considerados científicos. Crer em amazonas guerreiras que viviam na “república das mulheres” por esses rincões não é um mal maior que crer no mito fundador acreano. Em ambos os casos, a história e a ficção se confundem. É a ciência pedindo auxílio à literatura para justificar uma prática opressora. Desmistificar a historiografia oficial é destruir um dos maiores instrumentos de dominação em nosso Estado. “A escrita em História em nada se diferencia do gênero literário” Peter Burke, historiador inglês.

*Egina Carli de Araújo Rodrigues Carneiro é Professora de história, pós-graduada em psicopedagogia pela IVE e pós-graduanda em História da Amazônia pela UFAC